Sérgio Vaz (esse é da paz) e Marcelino Freire
O que me anima é a poesia que vem das ruas, que nos devolve a coragem, nos tira da letargia do Rio de Janeiro, onde os poetas já nascem feitos. Fui para as Baladas Literárias de Marcelino Freire, em São Paulo, e encontrei a
Cooperifa, cujos eventos são comandados por Sérgio Vaz. A esse sim eu quero seguir. Esse é um verdadeiro comandante e reune em torno da poesia, no respeito e na consideração, sem que ninguém estabeleça quem é o melhor, a voz da liberdade que emerge da periferia da São Paulo. Coisa muito boa de sentir.
200, 300 pessoas num bar da periferia, tendo o silêncio como prece. Ali a poesia é religião. E é professada por todos. Famílias inteiras, senhoras idosas, jovens de muitas idades. O que eles têm em comum é o fato de serem excluídos e mesmo assim apostarem na esperança. Essa é a nova voz da revolução. Paz com poesia. Essa é a luta: contra a ignorância, a favor do ser humano em sua totalidade, desenvolvendo o que ele tem de melhor, e não incentivando seus piores instintos.
Se você quer saber quem é essa figuraça - Sérgio Vaz, vá em
http://www.colecionadordepedras.blogspot.com/ e verá do que ele é capaz. Que força! Que determinação!
Quanto às
Baladas Literárias, estava ótima a programação: Lygia Fagundes Teles, Ivana Arruda Leite, Frederico Barbosa, Antonio Cícero, o poeta português E.M.de Melo e Castro, Alberto Manguel, Luiz Antonio Asssis Brasil, Eunice Arruda, Marcelino Freire, José Castelo, e Augusto de Campos que fez uma apresentação histórica dizendo poemas acompanhado pela banda do filho Cid Campos. Cito apenas alguns nomes, que mais seria copiar o programa.
Ainda um espetáculo originalíssimo: uma performane literária "Los críticos también lloram" , em homenagem ao escritor chileno Roberto Bolaño, dirigida pelo espanhol Marc Caellas.
Destaco três nomes que me chamaram atenção: o de Lourival Hollanda, professor de crítica literária da UFPE - sobretudo poeta;
o de Everton Behenck, poeta gaúcho que estréia com "Os dentes da delicadeza", pela Não Editora, de Porto Alegre;
E o fantástico Emicida - rapper que já está com o nome feito no meio da moçada e agora entre as elites. Não tem pra ninguém.
Tudo bem, tudo firmeza. O ponto mais fraco das Baladas foi a reunião de poetas jovens que participaram da mesa coordenada por Jomard Muniz de Britto.
Jomard tem 73 anos, e incrivelmente, era o mais novo de todos.
A nova geração, que tem todas as informações disponíveis, consegue fazer poesia. Mas está completamente alienada em relação ao país e ao mundo em que vivem. Não sabe responder perguntas, não sabe que lugar ocupa.
Mas no balanço, as
Baladas Literárias organizadas por Marcelino Freire, neste ano em 5º edição, são um raro momento para viver literatura e curtir São Paulo em profusão de possibilidades.
Apenas um detalhe: foi notada a enorme diferença entre o número de participantes homens e mulheres. Mas acho que isso foi sempre assim, não é mesmo?
Tanto os eventos organizados por Marcelino Freire como os que têm Sérgio Vaz à frente não estão separados. Ao contrário, se mesclam, se comunicam e fazem crescer o interesse pela poesia em São Paulo. Parabéns a ambos, portanto.
Sei que há outros eventos semelhantes ao da Cooperifa em São Paulo, como o de Ferréz em Capão Redondo, mas esse não conheci. Fico devendo.
E não posso deixar de terminar homenageando d. Edith, uma senhorinha que recita Castro Alves para a juventude. D. Edith é cega, e vai pela mão da irmã aos eventos de poesia para que saibam que ela tem na poesia a razão de seguir.
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