segunda-feira, 15 de novembro de 2010

REPRESSÃO NA FEIRA E OUTRAS COISAS FEIAS

Eu estava toda animada quando me decidi a relatar o que soubesse do movimento literário que anda (ou pára) por aí.

Infelizmente, não tenho boas notícias. A primeira que chegou foi a da prisão da escritora Telma Scherer, ao fazer uma performance na Feira do Livro de Porto Alegre. Cercada por policiais, Telma foi levada numa viatura por quatro deles, que lhe diziam que ela ia ser submetida a exame médico. A versão oficial é de que ela estava mobilizando muita gente no local da perfomance e que estava atrapalhando o público presente.

A notícia vocês podem ler em http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda/?Noticia=221745

ou no blog da escritora http://www.telmashecer.blogspot.com/
além dos muitos outros blogs que divulgaram a notícia.

Logo me lembrei da primeira postagem que fiz, em 2009, no http://www.integradaemarginal.blogspot.com/ , que contava do que acontecera na Flip, em Paraty, quando a organização do evento e o poder municipal acharam por bem reprimir e ameaçar todos aqueles que, individualmente, quisessem divulgar seu trabalho, impedidos pelas exigências discriminatórias da livraria que monopolizava as vendas. Na ocasião, contei que o livro "Te pego lá fora", de autoria de Rodrigo Ciríaco, professor da rede púbica na periferia de São Paulo, mostrava o que é, hoje, a educação possível, inclusive reproduzindo a linguagem das salas de aula, um universo distinto e distante, muito distante da FLIP, que literalmente, o perseguiu, sem saber (e sem querer saber) que ali estava uma promessa literária a que se devia prestar atenção. Rodrigo vendia o livro no escuro das esquinas, com medo de assustar os passantes, numa situação humilhante.

Em seguida circulou a

Carta aberta do Grupo Editorial Record dirigida aos organizadores do prêmio Jabuti, cujo primeiro parágrafo reproduzo.

O Grupo Editorial Record - composto pelas editoras Record, Bertrand, Civilização Brasileira, José Olympio, Best Seller e Verus - decidiu que não participará da próxima edição do Prêmio Jabuti para claramente manifestar sua discordância com os critérios de atribuição do Livro do Ano de ficção e não-ficção. Tais critérios não só permitem como têm sistematicamente conduzido à premiação de obras que não foram agraciadas em seleções prévias do próprio prêmio como as melhores em suas categorias.


É o caso de se usar a gíria: DEMOROU! Porque não é de hoje que todos falam, sempre à boca pequena, dos escândalos que se tornaram os prêmios literários, cujo resultado sempre têm uma ou outra ligação com interesses outros que não os estritamente literários. Infelizmente, a corrupção, de que tanto se fala na política, assume outras caras, dependendo do contexto em que se forja.

Chico Buarque ficou na boca do leão, mas particularmente entendo que se a editora o inscreve, e ele concorda com isso, não há motivo por que não deva receber o prêmio que outros escritores, também inexplicavelmente, já receberam. Pode-se não gostar do que ele escreve, mas ele gosta.

Evidentemente, é quando alguém abre a boca que outros resolvem também abrir, incentivados por uma indignação que vem de longe. Nesse caso se enquadra o desabafo da escritora Carmem Moreno http://www.carmenmorenoemprosaeverso.blogspot.com/,
autora de uma obra de qualidade que mereceria, mais do que outras, o cobiçado prêmio, (e o merecimento de um grande público) sem precisar se submeter às sempre (essas sim, escandalosas) exigências das "instituições de fomento", destinadas a barrar qualquer esperança de autor "não indicado".

Este é um assunto sem fim e tão antigo quanto a literatura. Ultimamente, então, quando os poucos críticos sérios não recebem os necessários espaços nos jornais, cujos suplementos são os mais superficiais possíveis, é ainda mais difícil para o escritor ter seu trabalho reconhecido. Foi-se a figura do crítico que lia os originais e os avaliava, indicando a publicação ou não. As editoras não estão interessadas em cultura, e sim em vender seu peixe. Não devemos, portanto, lavar a alma com o comunicado do Grupo Editorial Record. Sempre há alguma coisa atrás dessas atitudes heróicas. Não há notícia de que a Record e seus braços, ou tentáculos, concedam ao escritor algum crédito ao escritor fora da mídia. Também por ali transitam best-sellers e trduções injustificáveis.

Assisti também ao Artimanhas Poéticas, mas isso contarei depois.

Preciso de um pouco de sol.
Embora a coletânea de poesia A CORÇA NO CAMPO, de Lenilde Freitas, tenha inaugurado a luz necessária

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Um comentário:

  1. nós , os autênticos e independentes, podemos agora nos considerar também camelôs da palavra... Quando tentamos expor nossa "mercadoria" lá vem a repressão policial paga pelos "lojistas da área"
    VAMOS INAUGURAR O POETÓDROMO!!

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